Alice

As flores estão dançando balé, a lagarta azul fumando, as borboletas feitas de ar perseguindo o coelho branco, que está sempre atrasado. Sempre maltratando o pobre motorista da Mercedes preta.

O sol está vermelho, o sol está amarelo, o sol está verde, o sol está azul, o sol está piscando no ritmo daquela batida infinita no seu cérebro.

Tuntz
Tuntz
Tuntz
Tuntz

Vermelho, amarelo, verde, azul.
Eat me.
Drink me.

Cresça, diminua. Seja tudo agora e nada daqui a pouco.

Se deixe levar pelo vândalo com o chapéu estranho. Derrube o muro feito de limites na sua cabeça, derrube o castelo de cartas da sua consciência, derrube o templo da sua culpa. Se perdoe, siga em frente. Sente nos escombros do seu passado e veja o pôr-do-sol.

Vermelho, amarelo, verde, azul.

Ande pela noite, sob as estrelas. Todas as placas indicam pra lugar nenhum e o gato te sorri no galho de uma árvore. “Pra onde você quer ir? O que você quer fazer?”

Desistir, você quer desistir. Quer que tudo acabe. Quer ser livre. Livre do seu vestido azul, livre das aulas de francês, livre da arte elitista, do conhecimento inútil e do conceito que as pessoas tem de liberdade. Se entregar completamente ao nada.

E ele te entrega ao nada. Te entrega à Rainha.

E desaparece no céu, seu sorriso é a lua que vai zombar de você para sempre.

Tuntz.
Tuntz.
Tuntz.
Tuntz.

A Rainha quer cortar sua cabeça, a Rainha não inveja sua beleza, sua juventude ou sua sabedoria. A Rainha não tem leis, a Rainha tem vontades. Ela quer cortar a sua cabeça pelo puro prazer de cortar a sua cabeça. Alguma objeção? Não? Ótimo. Cortem a cabeça!

Sem hesitação, sem resistência, sem protestos.
Você se arrepende dos seus pecados?
Não.
Você quer o perdão Divino?
Não.
Você não quer ir para o céu?
 Corte logo essa droga de cabeça.

Em nome de Deus.

O machado afiado corre em direção ao seu pescoço. Em nome de Deus. Em nome da Rainha. Em nome de tudo que importa. Você ainda ouve a lâmina cortando o vento, antes de aquilo tudo acabar.

Tuntz.
Tuntz.
Tuntz.
Tuntz.

Amarelo, vermelho, verde, azul.

Alguém gritou seu nome e ele ecoou na sua cabeça, como em uma caverna vazia.
Sua irmã, seus amigos, todos ao seu redor enquanto você se debate. Bem-vinda de volta, Alice. De volta à sua vida, à sua boate, às suas drogas, à sua liberdade que não tem sentido e não te faz feliz.


Tuntz.
Tuntz.
Tun... Que seja.



Fil

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